Roberto Corrêa dos Santos
boa noite ele
disse. boa noite. o paraninfo disse boa noite. e repetiu. boa noite. o
paraninfo deveria prosseguir. esperavam. o paraninfo suou pelo corpo inteiro.
pediu licença em silêncio para retirar o paletó. e disse. disse mais uma vez.
boa noite. cumprimento a todos. e para reavivar neste instante nossa por vezes
esquecida sobre-humanidade. (conseguira ele dar um passo na voz além dos
inícios). do cerne do silêncio ouviram a respiração do paraninfo escapar pelas
caixas de som. continuou suando suando. tentou pronunciar algo. algo que o
fizesse prosseguir apesar de bem diante do microfone cruel. não reconhecia mais
suas palavras nem seu timbre. nem o papel no bolso que preferiu manter secreto.
repetiu a frase em sussurro. boa noite. boa noite repetiu antes de afastar-se
heróico.
Muito forte este poema do Roberto Corrêa dos Santos; trata-se do ter de dizer, do ser obrigado a dizer, do não poder (e sua força) dizer; na cena, as efemérides. Parabéns pelo site.
ResponderExcluirRoberto Corrêa dos Santos, intelectual-artista inspirador.Minha sensibilidade fica aguçada pelo contato com ele.
ResponderExcluirBelo início sérjo, achei que o poema me transmitiu uma dor aguda, mas passageira, fugaz. Não conhecia o autor, interessante a disposição do poema.
ResponderExcluirsenti o sabor de uma afasia bem kafkiana...
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